Me chamo Fernando Gaebler, no fandom sou conhecido por IntensoFOX, este apelido quem me deu foi os meus amigos dos jogos de RPG, em um programa da prefeitura de São Bernardo do Campo, nas oficinas de rpg sempre usava personagem de raposa, foi lá pelos idos de 2007, já era furry, mas ainda não tinha conhecimento de que havia grupos no Brasil, alguns eventos na época. Me considero um furry consciente desde os 10 anos de idade, participava dos sites e fórum lá da gringa, achava que só havia esta arte em solo americano. Nesta oficinas, organizadas pelo Grupo MegaCorp do Anderson Gomes, conheci a Kouta e o Zannafer, que me apresentou alguns grupos, e os eventos furmeet no Parque do Ibirapuera, minha mente explodiu de felicidade, foi um sonho realizado, saber que havia mais pessoas como eu no Brasil.

Foi aí que decidi que deveria participar mais, auxiliar na divulgação não só dentro da cultura jovem, mas também para o público geral, em me tornar membro de alguns grupos, ir nos furmeets, participar como staff da Anime Friends, na sala furry. Naquele tempo havia o grupo Red Moon, a Invasão Furry, a Fauna Urbana – adorava aquele site – e o Furry Brasil. Já havia algumas tretas, mas foi um período de aprendizado, de autoconhecimento e de identificação com a nossa cultura.

Entrei na rede estadual, me tornei professor de filosofia, levei a nossa cultura para a sala de aula, utilizando como ferramenta pedagógica, fiquei pouco, depois fui fazer jornalismo, pois gosto de diversidade cultural e social. Infelizmente acabei me afastando, por conta da pandemia, acredito que para muitos também, porém este ano de 2025 decidi ir na Brasil FurFest, foi maravilhoso, realmente me emocionei com o documentário ‘Uma Chamada Furry’, considero um documentário digno de ganhador de prémio. Sobre o evento, não imaginei que havia crescido tanto, quando comecei em 1997, achava que seria uma moda passageira, aquele típico bordão do senso comum “coisa da Idade”, de adolescente.

Alguns na época falavam que era apenas figurinhas, que devíamos usar a foto humana, que eram apenas fantasias, típica daqueles de loja de carro ou comércio popular. Mas quando fiz filosofia e depois em jornalismo, percebi que havia todo um lado mais filosófico, digamos que espiritual na cultura furry. Pretendo no futuro realizar uma pesquisa sobre o assunto, mas levanto algumas questões, que adoraria compartilhar aqui nesta revista maravilhosa.

Em primeiro lugar, toda cultura é algo que cultivamos, como uma semente que fornecerá frutos mais tarde, e como existem várias sementes de várias plantas, há várias definições do que é ser furry. A mídia de massas e o senso comum procuram sempre criar um preconceito, criando uma definição que muitas vezes convivem com outras, mas que são marginalizadas pelo desconhecimento. Em segundo lugar, quem faz a cultura furry, somos todos nós. Cada um pode agregar em algo, complementar, redefinir e rever conceitos e preconceitos.

Já no meu caso, meu fursona não é um personagem apartado do que eu sou, como se fosse uma expressão ou projeção mental, sou eu mesmo, entendo como um autoconhecimento como no oráculo de delfos, lá na antiga Grécia “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”, minha forma de vivenciar o universo vai além da matéria e espirito, sou integralmente furry, claro que trago aspectos do jogo de RPG, pois este personagem sou eu mesmo, vivenciando o jogo da vida, bem como de animes e mangás. Com a palestra do Vozera na BFF, falou do preconceito da sociedade em relação aos otaku e furries, tem muita sabedoria oriental nos mangás e animes, tem muito aspecto da sabedoria primordial na cultura furry.

Devemos nos orgulhar e reafirmar sem medo de ser feliz nosso ideal de cultura, pois é algo terapêutico, que nos convida a autorreflexão, a construção de nossos sentidos, no início de nossas jornadas do herói, sendo este herói nós mesmos, como na filosofia grega antiga, em conhecermos os deuses, sim... é possível! Esses deuses estão dentro de cada um de nós, esperando para despertar com a cultura furry, esses deuses são o potencial terapêutico que nos convida a viver.

Espero que com esta breve reflexão compartilhada, possamos todos nós termos orgulho de viver, de sermos furries, de compartilhar nosso ideal, debatermos o conceito, avançar na construção desta grande matilha, alcatéia ou qual o nome de sua espécie der para esta nossa grande comunidade, da qual, jamais irei abandonar, quero que todos possam usufruir desta terapia existencial, da cultura e de nos divertirmos nos criando e recriando, essa alquimia, da pedra filosofal.